domingo, 14 de junho de 2009

Resenha de Apple e Beane sobre Escolas Democráticas

Um ensino democrático é sintetizado por M. Apple e J. Beane. Eles juntaram as teorias de Dewey, principalmente, e de outros autores do ensino democrático dando um corpo que torna mais visual e palpável as propostas dentro do título “Escolas Democráticas”.
Antes de tudo os próprios autores tentam definir o que é democracia, o que com estrema dificuldade não chegam a uma conclusão objetiva mas encontram conceitos que servem para ilustrar o que seria o modo ideal do pensar democrático.

Outros estão comprometidos com a idéia de que o modo de vida democrático é construído sobre as oportunidades de descobrir o que é esse modo de vida e como ele deveria ser conduzido. Acreditam que as escolas, como experiência comum de praticamente todos os jovens, tem a obrigação moral de lhes apresentar o modo de vida democrático. Sabem também que esse modo de vida se aprende pela experiência. Não é um status a ser alcançado só depois que as outras coisas são assimiladas. Além disso, acreditam que a democracia se estende a todas as pessoas, inclusive aos jovens. Por fim, acreditam que a democracia não é incômoda nem perigosa, que pode dar certo nas sociedades e nas escolas. (p. 18)

De fato, os autores acreditam que a sociedade ainda não encontrou o verdadeiro sentido da democracia, atribuindo-a ao governo exercido, ao voto e, por vezes, utilizada como argumento para conseguir o que se quer: “isso (não) é democracia”. Neste sentido seria um conceito flexível. Enquanto pessoas desacreditam, outros a justificam como argumento para tudo. Mas segundo Apple e Beane, quem teve a boa e verdadeira democracia, não abriria mão dela, deixando-a de legado para seus filhos e netos.
Porém se o conceito de democracia não fica tão objetivo, os educadores sabem muito bem o que querem das escolas democráticas. A começar pelos pontos enumerados que representam as principais preocupações centrais dessas escolas. Seriam estes o livre fluxo das idéias; capacidade individual e coletiva de as pessoas criarem condições de resolver problemas; o uso da reflexão e análise crítica para avaliar idéias. Preocupaçãi para o bem-estar de outros e com o bem comum; preocupação com a dignidade e os direitos do indivíduo e das minorias; a compreensão de que a democracia é um conjunto de valores “idealizados” que regulam a nossa vida. (p. 17) Então o texto “Escolas Democráticas” estabelece as pretensões que uma escola assim deve almeijar:

As escolas democráticas pretendem ser espaçoe democráticos, de modo que a idéia de democracia também se estenda aos muitos papéis que os adultos desempenham nas escolas. Isso significa que os educadores profissionais, assim como os pais, os ativistas comunitários e outros cidadãos têm o direito de estar bem informado e de Ter uma participação crítica na criação das políticas e programas escolares para si e para os jovens.

Essas escolas são resultados de tentativas de dar vida à democracia em sala de aula através de duas linhas de trabalho: “uma é criar estruturas e processos de democráticos por meio dos quais a vida escolar se realize. A outra é criar um currículo que ofereça experiências democráticas”. Isto quer dizer que todos aqueles diretamente envolvidos com a escola, dentro e fora dela, tem o direito de participar das tomadas de decisões e em sala de aula, professores e alunos envolvendo-se nos planejamentos disáticos, chegando a consensos que agradam ambas as partes. Com isto, visaria, não só o crescimento de cidadania do estudante, como também findar a competição em classe (p. 20-22).

Ora, dentro das escolas aqui descritas, é impossível que uma mudança haja sem que seja trabalhado de maneira especial o currículo, isto é, democratizar a formação e criação curricular. Com que objetivo? Ampliar suas idéias e expressar as que já tiveram.
Lógico que seria fundamental que o meio social em que o estudante vivesse fosse todo igualmente democrático, ou seja, em que os jovens são leitores críticos da sociedade. Porém tal leitura caberá à escola oferecer, expandindo-se da escola para fora enquanto não se torna uma pista de mão dupla. Agindo em cooperação com o currículo da escola, os alunos abandonarã o papel passivo de “consumidores do saber”, e passarão a ser “elaboradores de significados” (p. 30).
O currículo deve também ser aberto à comunidade, pois trabalhará questões da vida coletiva ao redor do aluno. Assim trataria dos conflitos, o futuro e a justiça na comunidade em que vive o alunos, por exemplo.

Numa sociedade democrática, nenhum indiv;iduo ou grupo de interesse pode reinvidicar a propriedade exclusiva do saber e dos significados possíveis. Da mesma forma, um currículo democrático inclui não apenas o que os adultos julgam importante, mas também as questões e os interesses dos jovens em relação a si mesmos e a seu mundo.

Mas a implantação deste sistema enfrenta diversas barreiras. Entre eles, Apple e Beane citam a exaustão e os conflitos devido às escolas serem instituições historicamente antidemocráticas, principalmente com as miorias. Mas os principais problemas se encontram quando se deparam com os que se beneficiam das desigualdades ou com os que se interessam no poder hierárquico. Todavia, como enfatizam os autores, uma experiência democrática se constrói mais por meio de esforços repetidos que fazema diferença (p. 24-25).
Para a implementação de um currículo democrático, muitas escolas evitam o assunto sabendo que estão restringindo o conhecimento transmitido, o cnhecimento oficial, produzido pela classe (cultura) dominante; também, nos moldes velhos de currículo, silencia-se as vozes da cultura oprimida, o que está claro nos livros didáticos. Ora, as condições vigentes são antidemocrática, cabendo aos professores romperem com isto, em eterna tensão, ao mesmo tempo em que transmitem conhecimentos dos grupos educaionais no poder.
Por fim o desinteresse em jovens mais preparados criticamente está, dentro das escolas, acompanhado do medo da análise aguçada que podem levar os estudantes a questionarem o conhecimento escolar e dominante, levando-os a questionar problemas sociais ainda maiores. E a participação no currículo também ameaçam revelar as contradições éticas e políticas, fazendo com que o aluno questine valores que a escola diz defender ou afastando os discentes deles (p. 32).
Como visto, Apple e Beane são muito mais críticos e perfuram muito mais as questões que permeiam a educação do que Dewey, ainda que este seja a grande referência teórica dos dois primeiros. Embora a opinião do texto Escolas Democráticas seja de que não se trata de algo tão difícil de ser posto em prática, no fundo eles são mais pessimistas, ou como diria Umberto Eco, “apocalipticos”. Mas isso é uma outra história para um outro por-do-sol.

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