domingo, 14 de junho de 2009

1961: que as armas não falem

FELIPE ARAÚJO DE CARVALHO


1961: que as armas não falem
MARKUM, P.; HAMILTON, D. 1961: que as armas não falem. São Paulo: SENAC, 2001

As obras históricas escritas por jornalistas costumam ser criticadas por sua falta de fundamentos e pesquisas mais aprofundadas. Ainda que se questione, é reconhecido a importância de um registro que o historiador ou o sociólogo deixam de fazer por seus métodos específicos.
No caso do trabalho de Markum e Hamilton, o fato de um livro tão grande tratar basicamente de treze dias é reflexo de uma grande pesquisa, e ainda que possam ser expostas as críticas, reproduzem um momento da história do Brasil de suma importância política para o país.
1961, o ano em que o Jânio Quadros assumiu o cargo maior da política nacional: a presidência da república. Também foi o ano em que, sete meses depois, veio a renunciar. As especulações são muitas. A versão mais contada é de que o presidente esperava, a exemplo do que ocorreu com Getúlio Vargas, que o povo fosse às ruas pedir que voltasse ao cargo para assim assumir com poderes plenos e mais consistentes. Uma fita cassete é o principal documento. Mas uma renúncia em si não é fato tão decisivo para levar um país a uma tempestade, afinal, o primeiro presidente brasileiro, Deodoro da Fonseca, já havia sido também o primeiro a renunciar, levando o nosso país ao primeiro ditador ainda não oficialmente: Floriano Peixoto. Pois bem, a renúncia de Quadros desencadeou também uma futura ditadura, mas vamos por partes.
Quando Jânio renunciou, o seu vice presidente encontrava-se na China. Qual o alarde? Os anos sessenta foram os mais extremos e delicados no que dizia respeito à guerra fria, pois em 1959, menos de dois anos antes do ocorrido no Brasil, a Revolução Cubana demonstrava ter sido bem sucedida na ilha caribenha sobra a liderança de Fidel Castro e Ernesto Guevara. Inclusive, polêmico como era Quadros, resolveu condecorar com a principal premiação que se dá no Brasil, o próprio Che. Esse governo polêmico foi, entre outros fatores, um dos alarmantes para que as antenas do militares ficassem ligadas na política do momento. Voltando ao assunto, João Goulart, ou Jango como era conhecido, estava na China, e o grande agravante de sua estadia é que o país de Mao Tsé era comunista e este era, em toda a América, o temor maior dos políticos no poder brasileiro.
Devido a situação indelicada em que se encontrava o país e à imagem que ficou de Jango, este foi do oriente para um país platino, o Uruguai, e de lá veio ao Brasil pelo Rio Grande do Sul, em que seu parente Leonel Brizola já havia se preparado para uma guerra na qual afirmou que ao menos no Rio Grande Jango governaria. De fato, o velho caudilho tina preparado trincheiras na fronteira gaúcha com o resto do país.
Os militares então permitiram a ascensão de Goulart ao poder mas sob o regime parlamentarista, ou seja, ele não governaria. Posteriormente foi feito um plebiscito em que esta forma de governo foi derrotada em prol do presidencialismo e Jango passou a governar de fato... mas seu primeiro grande plano de governo foi barrado, não pelo congresso, mas pela ditadura de 64.
Em todo caso, os autores Markun e Hamilton centram-se apenas no ano de 61. Em especial nos 13 dias governados por Ranieri Mazzili, Presidente da Câmara dos Deputados durante a conturbação. Os autores narram os fatos como uma colagem nem sempre ordenada adequadamente, mas centram e comentam os protagonistas do período. Declaração são complementadas por documentos e, além de Jânio e Jango, personalidades como o governador da Guanabara Carlos Lacerda; Marechal Lott, militar a favor de Jango; o governador de Goiás Mauro Borges; além de Guevara, Brizola, Mazzili e outros são citados.
O ano foi ainda mais comentado pela preparação bélico-militar que o exército nacional fez, pronto para uma guerra, que terminou ficando para dias depois. Alguns prenunciavam uma guerra civil. Os meios de comunicação, a exemplo do que ocorrera menos de 20 anos antes, na ditadura Vargas, foram duramente censurados, principalmente as rádios, tendo sido colocados censores nos jornais impressos. Era uma censura explícita, que mostraria sua cara verdadeira nos primeiros anos de Castelo Branco.
1961: que as armas não falem. Uma boa obra para se entender o ano decisivo para os 24 anos posteriores. Entretanto deixa um gostinho de “quero mais” por ser superficial nas conseqüências deste ano tempestuoso. Também falta mais base nos antecedentes históricos, mas cumpre um importante papel na (e para) história do Brasil.

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